Só estando num templo para se perceber a Umbanda Sagrada, nada foi deixado por escrito.
Não há um livro que revele sua grandeza.
Só ouvindo as histórias de um Pai ou uma Mãe de Santo, as orientações dos Caboclos, os
conselhos dos Pretos Velhos e receber a proteção dos Exus.
Flores e ervas fazem parte dos trabalhos.
As velas, necessárias para a conexão.
O incenso purifica o ambiente.
As rezas e os cantos, que chamamos pontos, são as orações que homenageiam os Orixás.
O toque do atabaque marca o pulsar do coração, enquanto os olhos enchem d’água de emoção.
Tudo começou no Brasil, no ano de 1907. Zélio Fernandino de Morais, estava pronto para se alistar na Marinha, entretanto, começou
a sofrer estranhos ataques.
O médico aconselhou a família a procurar um padre, entretanto, sua mãe o levou à Federação Espírita de Niterói, Rio de Janeiro.
Assim que os médiuns se sentaram em torno da mesa, Zélio levantou-se e foi até o jardim apanhar uma flor para colocá-la no centro e, imediatamente, foi repreendido pelo dirigente por sua contravenção e foi convidado a se retirar devido ao seu atraso espiritual.
Então, Zélio levantou-se e disse:
“Por que repelem a presença desses espíritos sem nem sequer se dignarem a ouvir suas
mensagens?
Será por causa de suas origens sociais e da cor?
Se querem um nome, sou o Caboclo das 7 encruzilhadas, porque, para mim, não haverão caminhos fechados.
O que vê em mim são os restos de uma existência anterior.
Fui padre e meu nome era Gabriel Malagrida.
Acusado de bruxaria, fui sacrificado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761.
Deus concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo brasileiro.
Se julgam atrasados esses espíritos de negros e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho (médium que incorpora o espírito) para dar início ao culto onde esses negros e esses índios poderão dar suas mensagens, e assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou,
Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre
todos os irmãos encarnados.”
E assim se fez, nascia na Rua Floriano Peixoto, 30, o primeiro templo de Umbanda,
“ Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade”.
O espírito do Caboclo estabeleceu como lei a prática da caridade, cuja base é o Evangelho de Jesus.
Durante muitos anos a Umbanda foi proibida, com o risco de ser preso quem a praticasse.
Ainda hoje, por vezes, sofremos preconceito, mas continuamos na luta da prática do bem.
Procuramos seguir o que o Hino da Umbanda diz:
O Hino da Umbanda:
“…A Umbanda é Paz e Amor
É um mundo cheio de Luz
É a força que nos dá vida
E a grandeza nos conduz
Avante, filhos de fé
Como a nossa Lei não há
Levando ao mundo inteiro
A bandeira de Oxalá”
Carmo Tavares
Privilégio em ser umbandista há mais de 20 anos.
Texto publicado na primeira edição da revista da Federação de Artes Esotéricas, FAE, https://online.fliphtml5.com/zxwwm/esgd/
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