Era uma vez um guerreiro chamado Cuchulainn, um dos maiores heróis da Irlanda que,
durante as batalhas, ficava tão furioso que era preciso ser colocado dentro de um barril de
água para que pudesse se acalmar. E foi quando a tribo se divertia, no Samhain,
comemorado por 7 dias, com muita bebida, música e dança, que uma revoada de
belíssimos pássaros foi pousar ali bem perto, na lagoa. Correram para lá todas as mulheres,
encantadas com as maravilhosas aves. Emer, esposa de Cuchulain, pediu a ele que as
apanhasse e as trouxesse todas para si. Ele, então, foi atender ao seu pedido, quando
avistaram um casal de aves que pareciam mágicas, presas por um cordão de ouro,
cantavam tão belissimamente que, quem as ouvisse, cairia num sono profundo. O herói
lançou, sem sucesso, várias pedras em direção àquelas estranhas aves que, de repente,
desapareceram no ar. Frustrado e enervado com o ocorrido, antes que a fúria lhe tomasse
conta, sentou-se em uma pedra e acabou por adormecer, e teve, então, um sonho mágico
que mais parecia um grande pesadelo, pois foi açoitado por duas mulheres. Ao despertar,
não conseguia nem falar nem se mover, e seus amigos o levaram para casa. Ficou
acamado por todo um ano, sob os cuidados de sua família.
Num belo dia, no Samhain seguinte, chegou um estranho para visitá-lo e recitou-lhe um
poema. Eram palavras que contavam que Fand, esposa que foi rejeitada pelo rei dos mares
Manannan, depois de sofrer muito pelo amor perdido, agora, estava apaixonada pelo herói
e que aguardava sua visita em seu mundo. Enfraquecido, Cuchulainn não tinha como
aceitar o convite, então o estranho revelou-se! Era nada mais, nada menos que o deus do
amor, beleza e juventude Óengus. Milagrosamente, após a visita do deus, Cuchulainn
começou a falar e também melhorou um pouco. Foi, então, aconselhado a voltar na mesma
pedra que adormeceu no Samhain passado, e assim foi feito. Dessa vez, no sonho foi-lhe
dito que seria ajudado a encontrar-se com a jovem Fand, desde que se dispusesse a lutar
contra os adversários do governante Labraind Lúanthlám, entretanto ele respondeu que
ainda encontrava-se muito fraco para enfrentar tal desafio. Na verdade, quem lhe apareceu
em sonho era Lí Ban, uma mulher do Sidhe, que prometeu ao herói total recuperação desde
que aceitasse o acordo. Compromisso aceito, logo Cuchulainn estava rejuvenescido e
pronto para o combate.
A batalha foi vencida tão rapidamente que não foi capaz de descarregar toda fúria do
grande herói, que precisou ser colocado três vezes em barris de água; o primeiro ferveu e
borbulhou após sua imersão, o segundo, ferveu e, no terceiro, a temperatura até que ficou
menos quente.
Fand finalmente teve seu encontro com o herói, ficaram juntos por um mês e combinaram
um novo encontro brevemente. Rumores se espalharam e acabaram por chegar aos
ouvidos de Emer, que descobriu tudo, ficou possessa, organizou um exército de 50
mulheres que, armadas de facas, avançaram para acabar logo com essa traição.
Por um lado, Cuchulainn prometeu proteger Fand e, ao mesmo tempo, descobriu que ainda
amava Emer, sua mulher, que disse que estaria disposta a esquecer tudo o que aconteceu,
voltando a receber o herói em seus braços.
Fand, novamente abandonada, lamentou o grande amor devotado ao deus do mar que,
agora perdido, com o coração batendo forte por Cuchulainn, magoada, resignada, voltou
para o Sidhe, acompanhada por Manannan, que veio lhe buscar.
Assim que Cuchulainn ficou sabendo do destino de Fand, sentiu-se culpado, percebendo
que ainda gostava dela e, desolado, abandonou tudo, seguindo para as montanhas,
deixando todos muito preocupados com a decisão do herói. Emer procurou o rei, que
convocou druidas para trazerem Cuchulain de volta, então, foi preparada uma poção – a
poção do esquecimento -, que foi dada para ele esquecer Fand e também para Emer
esquecer a traição e seu ciúme.
Ainda assim, Manannan preferiu garantir que Fand e Cuchulainn nunca mais se
encontrariam e que também esquecessem de uma vez por todas o amor que sentiam,
então, sacudiu seu manto mágico e pronto… estava feito!
O herói Cuchulainn morreu jovem e foi um grande exemplo de coragem; quanto a
Manannan, além do manto mágico, o deus do mar, Manannan Mac Lir, ainda usa o ramo de
prata que nos leva em conexão com o Sidhe, mas que agora fica para uma próxima história