Atualmente, as runas ficaram conhecidas como sendo um “oráculo viking”, especialmente o sistema Elder Futhark, entretanto, sua origem é bem outra.
O Elder Futhark, o Futhark antigo ou Futhark germânico, foi um sistema de escrita, como um treino de caligrafia, surgindo primeiramente nas pedras, como símbolos rupestres. Utilizado para escrever o protogermânico e o protonórdico. Formado por 24 letras, é encontrado, completo, pela primeira vez, na Pedra de Kylver, na Suécia, uma pedra entalhada no ano 400 d.C. Foi utilizado pelas tribos germânicas de 150 a 800 dC. Durante 200 anos ficou em transição e acabou por ser extinto, pois, à época, ninguém mais falava o protonórdico.
O nome de cada caractere usado no Elder Futhark é uma conjuntura da Runologia (estudo dos sistemas rúnicos). Na época em que esse sistema foi utilizado, ninguém registrou os nomes para as letras. Essa é uma conclusão recente, baseada na gramática daquele período.
Mais tarde, já no século VIII, o sistema utilizado na Escandinávia passa a ser o Younger Futhark, usado na era Viking e popularmente conhecido como runas vikings, contando com 16 caracteres e utilizado na maior parte das inscrições rúnicas.
Pedra encontrada em Tullstorp, Suécia
É no Younger Futhark que estão baseadas as Eddas – compilação muito antiga de histórias do povo nórdico
A Edda em prosa, chamada de Sabedoria da Bisavó, manuscrito islandês do século XIII, apresenta muitas citações sobre as runas do sistema Younger Futhark
Há um poema norueguês do século XVII, escrito com o uso das runas, contendo uma estrofe para a interpretação de cada runa do Younger Futhark.
Com as invasões nórdicas, as línguas e as divindades se misturam, há achados arqueológicos do Elder Futhark na Inglaterra e, então, a escrita rúnica é levada para lá.
São acrescentados novos caracteres para suprirem a escrita daquele idioma e então surge o Futhork, com novos fonemas, em princípio, 26, chegando mais tarde a 34. Para esse novo sistema é também criado um poema, conhecido como poema anglosaxão, que trata da interpretação de cada uma das 34 runas.
E como oráculo, quando e como foram utilizadas?
Pois é, não há qualquer fonte histórica que nos prove que as runas tenham sido utilizadas oracularmente.
Há textos do soldado romano Tácito que descrevem um costume na Germânia de adivinhos que cortavam um galho de uma árvore, gravavam símbolos e lançavam em uma toalha
branca, mas não sabemos se eram as runas.
Claro que as runas estão presentes no universo mitológico nórdico, o mais conhecido é a história de Óðinn , que faz um auto sacrifício e acessa o conhecimento das runas.
Há muitas sagas e poemas que nos ajudam a conhecer melhor a cultura daquele povo.
Sobre oráculo, o que sabemos é que, nos anos 70, o escritor americano Ralph Blum lança seu livro sobre runas, contando sua gnose pessoal ao utilizar o Elder Futhark e, a partir daí, há uma grande curiosidade com o uso dos símbolos de forma oracular. Muitos livros são lançados, mas sempre com uma visão mística, suprindo, infelizmente, a história tão rica da escrita escandinava.
As runas podem, sim, serem utilizadas como oráculo, meditação, intuição, gnose pessoal, tudo muito válido, mas é bom conhecê-las melhor e mais profundamente.
Carmo Tavares
Artigo publicado na quarta revista da Federação de Artes Esotéricas FAE