Caldeirão da Poesia, entre nesta jornada mágica!

caldeirão

No desenvolvimento da espiritualidade celta, as tradições eram passadas da boca de um druida para o outro, ou seja,
de forma oral, através de canções e poemas, assim, religião e conhecimento eram transmitidos. É a Amergin, um dos
mais famosos poetas irlandeses, que é atribuído o poema “O Caldeirão da Poesia”- diz-se que a poesia foi composta
para Eber e Donn, irmãos de Amergin. Através de um grande mistério, o poema conta que cada pessoa nasce com três
caldeirões, como energias vindas das forças divinas. Os caldeirões podem ser localizados em nosso corpo, semelhante
aos chakras, porém não da mesma maneira, são eles:

O Caldeirão do Aquecimento, o Caldeirão do Movimento e o Caldeirão do Conhecimento ou Sabedoria.
Os Deuses não distribuem os caldeirões da mesma maneira, eles podem apresentar-se inclinados, invertidos ou
com a boca para cima.

O Caldeirão do Aquecimento – Coire Goiriath -, cuja tradução no irlandês é Coire, caldeirão e Goirìath, que pode significar
incubação, sustento ou manutenção, tem sua boca para cima, desde o nascimento. Refere-se à vida, à energia do corpo físico;
quando há doença, pode inclinar-se, e quando a pessoa morre, fica invertido.
O Caldeirão do Movimento – Coire Érmai -, nasce inclinado na pessoa e pode ser girado pela alegria e pela tristeza, mas há diversas
subdivisões para essas emoções.
O Caldeirão da Sabedoria – Coire Sois -, nasce com sua boca para baixo, confere mérito e distribui sabedoria em todas as artes, inclusive, da poesia.

Diferente dos chakras, que são vórtices energéticos em movimento, os caldeirões são recipientes que contém ou despejam diferentes energias.
Dentro dos caldeirões pode-se aquecer, ferver ou “preparar” a saúde, os talentos, as emoções e a sabedoria ou poesia. Seu
conteúdo pode ser líquido, sólido ou gasoso, simbólico ou realista.

No texto, quando Amergin canta sobre o caldeirão da poesia, há o seguinte trecho:

“Onde está a raiz da poesia em uma pessoa, no corpo ou na alma? Dizem que está na alma, pois o corpo nada faz sem a alma. Outros dizem que é no corpo que as artes são aprendidas, passadas através dos corpos dos nossos antepassados… Responder
não é difícil! Três caldeirões nascem em cada pessoa e conferem nobreza por meio do processo de criação da poesia, pelo derramamento de um terrível fluxo de fala que sai pela boca.” denso, pois está ligado à matéria, o ideal é que permaneça com a boca virada para cima, recebendo e fortalecendo a energia do corpo; está localizado no ventre e é necessário para manter
a saúde e as necessidades básicas de sobrevivência, entretanto, nem sempre assim é. A saúde física pode ser afetada por outros fatores, sejam do ambiente, herança dos antepassados, demandas da rotina e de outras questões, uma delas pode estar
relacionada com o Caldeirão do Movimento, que mora no peito, é o caldeirão que
processa e expressa as nossas emoções, podemos dizer que é o caldeirão central,
fundamental.

Na minhas práticas, percebo que o Caldeirão do Aquecimento precisa estar em constante movimento para que seu conteúdo não derrame e provoque a perda de energia vital, nem que permaneça estagnado, o que poderá causar um bloqueio energético.
Seu conteúdo é “cozinhado”, digerido e distribuído para todas as partes do corpo.
O Caldeirão do Movimento, na sua posição inclinada para o lado, mantém-se assim apenas no início da vida e deve ser virado através da compreensão, expressão e transformação de emoções poderosas, a fim de atingir uma posição totalmente vertical, pois é ele que
determina o acesso ao próximo caldeirão.

O Caldeirão do Movimento move e transforma nossas emoções, fica no limiar entre o corpo e a iluminação. A alegria e a tristeza são mecanismos que fazem movimentar os caldeirões internos. Além da tristeza propriamente dita, a tristeza pode ser dividida também em saudades e ciúme, que são temas da maior parte das canções de tradição musical celta. A disciplina também faz girar o Caldeirão do Movimento, uma forma de praticá-la é fazer peregrinações a locais sagrados, praticar dietas restritivas e rituais específicos ao alcançar o local sagrado escolhido. A alegria é dividida em humana e divina. Não há menção sobre a alegria divina nos textos, entretanto, penso que se pareça com êxtase ao contactar com a divindade em estado meditativo ou a conexão com a AWEN /|\ – futuramente falarei sobre isso.

A alegria humana é dividida em quatro categorias:
A primeira é a da união sexual, seria a euforia do prazer.
A segunda é a alegria da boa saúde, não é sobre a perfeição física, mas sim, de estar livre de doenças.
A terceira é a alegria da boa construção poética, a poesia bem elaborada, sabendo seguir as regras adequadas da gramática, rima e estrutura perfeita, que é uma alegria para quem declama, para os ouvidos de quem escuta e uma poderosa magia verbal.
A quarta alegria é mais mística, resulta do frenesi de saborear a energia poética, ao “comer” as avelãs da sabedoria, encontradas no reino do outro mundo, no Sidhe, futuramente, falarei sobre isso também.
Percebi, nas minhas práticas, que este é um Caldeirão que pode passar sem a devida atenção, especialmente com o acúmulo de atividades e responsabilidades do dia a dia, onde, por vezes, passamos por cima dos nossos sentimentos e emoções. É importante darmos a devida consideração tanto às nossas alegrias quanto às nossas tristezas, que não devem ser desvalorizadas. É um Caldeirão que precisa ter seu conteúdo bem preparado, com carinho e capricho, o que gruda no fundo, deve ser observado, diluído e transformado para não prejudicar o Caldeirão do Aquecimento, nem bloquear o fluxo do Caldeirão da Sabedoria.

O Caldeirão da Sabedoria está na cabeça e é girado através do treinamento e da inspiração divina, seus dons não se limitam à poesia, mas também a todas as artes. As pessoas com esse caldeirão ativo beberam tanto do Poço da Sabedoria que atingiram a iluminação através de processos de composição poética e criatividade e, ao mesmo tempo, as suas energias mais básicas foram purificadas.
A poesia resultante da ativação desse Caldeirão pode ser comparada a uma “torrente de fala aterrorizante e assustadora”. Para entendermos o que é essa ativação, precisamos perceber que as palavras da poesia transformam-se em imagens de imenso poder mágico, alcançando, assim, o fogo líquido fluídico da criação que nasce no Poço da Sabedoria. Da mesma maneira que Amergin escreve o texto “O Caldeirão da Poesia” teria entoado outro poema ao chegar em solo Irlandês, no ano de 1268 AEC. Através desse
poema, Amergin consegue dissipar o nevoeiro e apaziguar a tempestade em que os druidas da Tuatha de Danann haviam mergulhado a Irlanda para melhor esconderem-se dos olhos dos invasores. É mesmo esse o poder das palavras do druida que atingiu a iluminação.

A criação dessa poesia verdadeira e assustadora enobrece e eleva o poeta à iluminação.
Para percorrer esse caminho, é preciso que os três caldeirões estejam em suas posições verticais para que, ao mesmo tempo, com a saúde preservada e as emoções transformadas, o fogo flua pela cabeça e possa ser expandido.
Segundo minhas visualizações, Os Caldeirões são conectados por espirais, como fios de luz, fluindo de baixo para cima e de cima para baixo, num moto perpétuo, em movimento constante.
Para sentir, perceber e trabalhar com os três Caldeirões, podem ser feitos exercícios de respiração, meditação, contacto com a natureza, desenvolvimento do autoconhecimento, devoção às Divindades, passar por períodos de restrição, fazer peregrinação aos locais sagrados, praticar a poesia e o estudo da métrica, rimas e regras complexas de gramática, inclusive memorização e estudo constante; entretanto, eles, os Caldeirões, estão em contínuo movimento e podem, de uma hora para outra, virar e derramar seu conteúdo.
A jornada é um desafio, a aventura é indescritível.

Fontes de estudo:
Henry, PL, “The Caldron of Poesi
www.bellodunon.wordpress.com
www.nemetonbeleni.wordpress.com
https://www.templodeavalon.com/

https://www.immanion-press.com/erynn-rowan-laurie

Minha jornada no clã Caer Fidneméd an Sid desde 2016

Carmo Tavares

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