Diferente dos Mapas Astrológicos, sejam eles Natal, Eletivo ou ainda outro, onde se faz necessário saber com exatidão a hora e local do nascimento ou evento, na Astrologia horária só é preciso saber qual é a questão, ou seja, qual a pergunta do querente, que é o nome que se dá a quem faz a pergunta.
É uma Astrologia oracular, usada no passado, para saber sobre o momento oportuno para um rei iniciar uma guerra ou se a colheita seria farta naquele ano. Ao saber da questão, o astrólogo olhava para o céu e fazia o cálculo para poder dar a resposta.
Foi William Lilly, astrólogo inglês (1602- 1691), o mestre da Astrologia Horária. Em seu livro “Christian Astrology”, Lilly nos ensina como analisar tais mapas. Entretanto não foi ele que a inventou, ela nasce na Grécia antiga e faz parte de um grupo de “Princípios”, que incluía a Astrologia Eletiva (astrologia dos inícios), o estudo das “Decumbituras” (prognóstico de doenças) e de “perguntas e respostas”, que hoje chamamos de Horária.
Para responder a uma pergunta específica, é preciso que o astrólogo compreenda o contexto do qual a pergunta está sendo feita, se tem mais alguma outra questão paralela, além da pergunta propriamente dita.
Assim que se sente inspirado, o astrólogo abre o Mapa Astrológico baseado na hora e local em que ele está e não são precisos dados do querente, apenas clareza para a compreensão da questão.
A primeira coisa a se analisar é o ascendente, que será o querente, quem faz a pergunta; busca-se o planeta que rege o ascendente para saber onde e como ele se encontra no mapa, se tem dignidade, debilidade ou se está peregrino, isto é, se tem força de ação ou não. Depois a Lua é analisada, ela representa o estado emocional de quem faz a pergunta, então, procura-se a resposta no mapa.
Para encontrar objetos pessoais, em geral, analisa-se a casa 2, que é a casa dos bens e valores.
Para entrevistas, papéis, pequenas viagens, vizinhos, casa 3, que é a casa da comunicação.
Sobre assuntos com familiares, antepassados, reforma do imóvel, casa 4, que é a casa do Lar e Família.
Quando se quer saber sobre filhos, gravidez, sexo, prazer, casa 5.
Quando se perde um animal, assuntos sobre doenças e funcionários, casa 6.
Para casamento, divórcio, sociedades, clientes, sempre é um assunto para a casa 7, a casa do outro.
Dívidas, perdas, dinheiro do sócio, morte, casa 8.
Caso queira saber se é bom fazer uma grande viagem, estudar fora, casa 9, que é a casa da espiritualidade e do estrangeiro.
Sobre trabalho e carreira, casa 10.
Ajudas, amigos e o salário, casa 11.
E a casa 12 rege perguntas sobre inimigos ocultos, prisões e auto sabotagem.
Os personagens são os planetas.
O Sol, quente e seco, rege liderança, ouro, coisas únicas e reais.
A Lua, fria e húmida, rege emoções, mulheres, coisas brancas, moles e líquidas.
Mercúrio, frio e seco, rege coisas flexíveis, multicoloridas, misturadas, as conversas, fofocas, comerciantes, mentiras.
Vênus, fria e húmida, para coisas macias, bonitas, agradáveis, negócios, compras.
Marte, quente e seco, objetos cortantes, acidentes, cirurgias, agressividade, soldados, coisas vermelhas.
Júpiter, húmido e quente, rege a nobreza, coisas grandes, amplas, viagens, religião, justiça.
Saturno, frio e seco, rege coisas velhas, duras, negras, tristeza, solidão, rompimentos, ruínas, bolor, jardineiros, trabalhadores do campo.
Cada planeta rege também partes do corpo, carreiras, partes da casa e objetos.
Vou dar um exemplo, porque fica mais fácil a compreensão:
Pergunta:
“Eu tenho um lindo anel de prata com safira azul que desapareceu esta semana, será que perdi ou roubaram?”
Abertura do Mapa:
13 de Dezembro de 2019, 19h34:20 Bombarral, Portugal
Contexto:
Beatriz conta:
“Já faz tempo que queria um anel de safira, vi em uma loja uns modelos e mostrei para o meu namorado que fez uma surpresa e me deu um de presente. Costumo usar pra sair e, nessa sexta feira, tinha um jantar e quis usar, não o encontrei. Será que deixei em algum lugar ou fui roubada?”
É um mapa noturno, portanto, há maior dificuldade para o anel ser encontrado.
Vamos chamar a querente de Beatriz.
O ascendente representa quem faz a pergunta – Câncer;
regente – A Lua em câncer, seu domicílio – Beatriz é a Lua;
A Lua representa o emocional do querente – Câncer também
regente – Lua em seu domicílio; emocionalmente, também a Lua representa Beatriz.
O problema dessa Lua é que está na casa 12, uma casa negativa, ligada a inimigos ocultos ou auto sabotagem
Análise do querente:
Beatriz é bastante apegada ao anel e espera encontrá-lo, pode tê-lo deixado em algum lugar e não se lembra, mas também alguém pode tê-lo furtado sem que ela desse conta.
O anel:
Para representar o anel, podemos pensar no regente da casa 2, que abre em Leão; o anel é um objeto que pertence à querente, a regência é do Sol, entretanto, não é um anel de ouro, feito exclusivamente para Beatriz, aí sim, seria Sol, então vamos para outro planeta para representar o anel.
O planeta Vênus tem relação com joias, coisas belas e especificamente com a pedra safira e ainda é presente no namorado, portanto, relações amorosas são assuntos de Vênus, que é quem vai representar o anel.
Vênus (o anel) está na casa 8, casa das perdas e do que está de posse da outra pessoa.
Vênus está em Capricórnio, e, nessa posição, até que está forte, entretanto, está em conjunção com o maligno planeta Plutão, que fala de coisas ocultas, feitas às escondidas e também conjunto a Saturno, regente da casa 7, que representa o outro.
A Lua, Beatriz, faz aspeto desafiador a Vênus, o anel, há um contacto de 11º de diferença entre eles.
Análise de onde está o anel:
O anel está num signo de terra, pode estar sobre, perto ou abaixo do chão.
Saturno rege fechaduras e também encanamentos e banheiro, o anel pode estar no banheiro.
Está na casa 8, casa das perdas e das posses do outro.
O anel pode também estar de posse de outra pessoa, então, precisamos analisar a casa 7, casa do outro.
A casa 7 abre em Capricórnio, regência de Saturno.
Saturno (o outro) está muito forte no mapa, pois está em seu domicílio, Capricórnio.
Capricórnio dá queda para a Lua e também faz conjunção com Vênus (o anel).
Análise da situação:
Alguém de suas relações a enfraquece emocionalmente e pode estar envolvido com o desaparecimento do anel, pois o anel (Vênus) está em Capricórnio, que rege a casa das relações. Não faz sentido que o anel esteja com o namorado, pois foi presente dele, além disso, Beatriz está bastante triste e chateada em relação ao namorado, afinal, perdeu o anel que ele lhe deu de presente (Capricórnio da queda para a Lua).
É preciso saber um pouco mais sobre Beatriz, ela terá um sócio, um funcionário? Ela e seu namorado moram juntos?
“Não tenho sócio nem funcionários, só uma pessoa que faz limpeza em casa uma vez por semana. Não moramos juntos, cada um tem sua casa, em geral, passamos o final de semana juntos.”
Mas será que o anel foi furtado por essa pessoa que faz faxina?
Vamos para casa 6, que abre em Sagitário, regido por Júpiter, que também está na casa 6.
Júpiter está em Capricórnio, muito fraco, pois está em queda, a regência é Saturno. Para se ter mais certeza, precisamos saber se faz aspeto a Vênus (anel), mas não faz. Tão pouco Mercúrio, que é o representante natural de ladrões e que também está na casa 6, não faz aspeto com Vênus, isto é, nenhum dos dois planetas se relacionam com o objeto.
Embora Júpiter esteja em queda, sem sua força benéfica e Mercúrio também não esteja bem, pois está exilado, é difícil que o anel tenha sido furtado pela pessoa que faz faxina, pois ela não faz contacto com o anel, embora deixe Beatriz bastante insegura, pois a Lua (Beatriz) se opõe a Júpiter (faxineira).
Resposta:
Há uma chance remota do anel ter sido furtado pela faxineira, mas o mais provável é que Beatriz tenha perdido o anel na casa do namorado e provavelmente esteja no banheiro, o conselho é olhar se não caiu no ralo.
O contacto entre a Lua e Vênus é de 11º, portanto, 11 unidades de tempo para que Beatriz encontre o anel, talvez em 11 horas.
Depoimento da Beatriz:
“Encontramos o anel, estava no banheiro da casa do meu namorado, devo ter tirado para lavar as mãos e estava caído no ralo do box.”
Concluindo:
Para fazermos uma análise de um Mapa Horário, por vezes, somos tentados a presumir uma resposta, aquela que a princípio parece estar mesmo à nossa frente, mas quando há um aprofundamento no estudo do mapa, observando cada detalhe, percebemos que o julgamento inicial estava errado.
No caso da Beatriz, havia, sim, indícios do anel ter sido furtado, mas por um pequeno detalhe a resposta foi outra, portanto, para se dar uma resposta, há que se ter muita calma, anos de estudo e olhar atento.
Carmo Tavares