Janela de Fionn

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Para falarmos sobre Fege Finn ou Janela de Fion, em primeiro lugar, vamos conhecer um pouco sobre o Mito.

Fionn MacCumhaill é um importante personagem que aparece no Ciclo Feniano que situa-se no século III EC, segundo antigos manuscritos.

Os Fianna das histórias são divididos pelo Clann Baiscne, liderados por Fionn e o Clann Morna, liderados pelo inimigo Goll mac Morna.

Goll mata o pai de Fionn em batalha e o garoto é criado em segredo, aprende a arte da guerra e da caça.

Enquanto era treinado na arte da poesia, acidentalmente queimou o dedo enquanto cozinhava o “Salmão do Conhecimento” e, a partir de então, tornou-se detentor de infinita sabedoria. Cada vez que precisava saber sobre algo, era só colocar o polegar na boca e pronto, o conhecimento chegava até ele.

No Livro de Ballymote, que é uma compilação de obras antigas, em sua maioria manuscritos soltos e documentos valiosos transmitidos desde a antiguidade, é, em grande parte, dedicado às sagas de Fionn; lá, há um texto conhecido como “In Lebor Ogam” (O Livro de Ogam), com o diagrama da Janela de Fionn. Nesse manuscrito, os 20 Ogham  (Feda) aparecem organizados em círculos concêntricos, além de outras variantes.

 “Janela de Fionn”, também pode ser traduzida por cumeeira, buraco por onde, no passado, saía a fumaça da lareira, no centro da cabana de uma casa celta.

No livro da escritora Erynn Rowan Lauri, estudiosa do gaélico e da cultura céltica, há a seguinte reflexão sobre a Janela de Fionn:

 

“O Féige Find pode ser imaginado como a árvore que o poeta sobe até o centro para alcançar elevação e os Outros Mundos. O próprio desenho, com seus cinco anéis concêntricos, pode ser visto como o telhado da cabana, então, ao deitar de costas, é possível olhar os anéis, a cobertura e o buraco de fumaça central. Os próprios ogan, feda,  são como as amarras que prendem a palha e pode-se ver as estrelas girando no céu noturno em torno do poste central da árvore do mundo, ou a estrela do norte que é o prego sobre o qual giram os céus.” 

 

É como um portal, uma espiral que pode nos levar para outra dimensão, outro sentido de tempo/espaço; há diversas interpretações desse intrigante diagrama.

Ele é dividido em quatro partes, Norte, Sul, Leste e Oeste; é possível que faça referência às quatro províncias da Irlanda, pois muitas de suas características geográficas são atribuídas a Fionn.

Segundo a lenda, foi ele quem construiu a Calçada dos Gigantes como trampolim para a Escócia para não molhar os pés; ele também, certa vez,  pegou parte da Irlanda para jogá-la em um rival, mas errou e caiu no Mar – a moita tornou-se a Ilha de Man e  a pedra tornou-se Rockall e o vazio tornou-se o Lough Neagh. A Caverna de Fingal, na Escócia, também levou seu nome e compartilha a característica de colunas hexagonais de basalto com a vizinha Calçada dos Gigantes, na Irlanda do Norte.

No século VI EC, a Irlanda estava dividida em cinco províncias, cinco cúigí, isto é, cinco  porções e as atuais quatro províncias da Irlanda surgiram a partir desses cúigí, são elas: 

Uladh – Ulser, Laighean – Leinster, Connachta – Connacht e Mumha – Munster.

Ao Norte, Ulster, a Leste, Leinster, ao Sul, Muster e a Oeste, Connacht.

 

Fintan mac Bóchra,  conhecido como “o Sábio”, que viveu por 5500 anos depois do dilúvio, segundo o antigo texto Suidigud Tellaig Temra (O assentamento da mansão de Tara), quem fez essa divisão. 

Trecho do texto:

“8. Uma grande recepção foi dada a Fintan na casa de banquetes,

e todos ficaram felizes por ele ter vindo e por poderem ouvir suas palavras e suas histórias.

E todos se levantaram diante dele e ordenaram-lhe que se sentasse no assento do juiz…

…E ele lhes disse: ‘Não há necessidade de se alegrar por mim, pois tenho certeza de sua acolhida, assim como todo filho tem certeza de sua mãe adotiva, e esta então é minha mãe adotiva’, disse Fintan, ‘ a ilha em que você está, sim, a Irlanda, e o joelho familiar disso

é a colina em que você está, a saber, Tara. Além disso, foram o mastro do barco e a produção, as flores e a comida desta ilha que me sustentaram desde o Dilúvio até hoje. 

E sou hábil em suas festas e em seus despojos de gado, em suas destruições e em seus

cortejos, em tudo o que aconteceu desde o Dilúvio até agora.”

 

Então, assim Fintan fez a seguinte  divisão:

ao Norte – Batalha

ao Leste – Prosperidade

ao Sul – Música e Arte

ao Oeste – Conhecimento.

 

No diagrama,  nesses quadrantes, são dispostas as quatro famílias de Ogham (pronuncia-se Ouam) cada uma delas representa um Ácme:

 

ao Norte – Ácme Beithe – família Bétula –  província Úlster – Batalha

ao Leste – Ácme hÚatha –  família Pilriteiro – província Leinster – Prosperidade

ao Sul – Ácme Muine – família da Vinha – província Munster – Música e Arte

ao Oeste – Ácme Ailme – família do Abeto – província Connacht – Conhecimento.

Para interpretar:

O quadrante da Batalha representa as questões difíceis, obstáculos a serem superados.

O quadrante da Prosperidade representa as questões materiais, profissionais e práticas.

O quadrante da Música e Arte representa os dons, habilidades e também prazeres e emoções.

O quadrante do Conhecimento representa os aprendizados, lições e estudos.

Para usá-la como oráculo pode-se usar o próprio jogo de Ogham,  colocado em um saquinho, que é lançado na Janela e, assim, interpretar cada fid, em qual quadrante cai e se cai também sobre um fid.

Pode-se também, simplesmente, usar pedras coloridas, dando a cada uma delas um significado, por exemplo:

Quartzo  Branco – Espiritual

Quartzo Azul – Comunicação

Quartzo Rosa – Afetivo

Quartzo Verde –  Saúde

Quartzo Vermelho – Trabalho

Colocar as pedrinhas num saquinho, fazer a pergunta e lançá-las sobre a toalha, analisar em qual quadrante cada uma cai e qual é o fid, ou seja, em qual ogham ela cai.

Aquelas que caírem fora da toalha estão fora do jogo.

Esse foi apenas um exemplo, dá para trabalhar aqui a criatividade e intuição.

Carmo Tavares

Artigo publicado na 12ª edição da revista FAE – Federação de Artes Esotéricas

Muitos pesquisadores brasileiros têm contribuído com os estudos do Druidismo, nossos agradecimentos a Bellouesus Isarnus, Rowena A. Senèwéenn, Dartagnan  Abdias e todo nosso Clã.